quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

15 - Filosofia e ideologia

 Aula 15 - Filosofia e ideologia 

A questão da ideologia recebe atenção da Filosofia, pois tal conceito nos revela a origem de determinadas posturas e condições dos indivíduos na sociedade.


>  O conceito de ideologia, sob uma perspectiva filosófica desenvolvida por Karl Marx, que é o que vai nos interessar no momento, se traduz por um sistema de pensamento acerca do mundo social e das relações nele envolvidos, mais especificamente entre os indivíduos e suas atividades.


Esse conjunto de ideias, crenças, imagens, possuem uma reconhecida coerência e unidade dentro do grupo onde é gerado, sendo, portanto, entendido também como um tipo de visão de mundo, devendo ser compreendido como produto e reflexo da sociedade de uma determinada época, retratando o ideário de classes e grupos sociais reais.


A ideologia seria, então, a expressão da visão de mundo desse mesmo grupo, seus interesses e suas vontades, o que não implica, de forma alguma, que tal expressão corresponda a conhecimento verdadeiro, pois este está obscurecido e distorcido nessa visão.


Assim, a ideologia, para Marx, é a representação de um esforço de dominação de uma classe abastada sobre outra mais humilde.


De acordo com o significado mais utilizado, ideologia seria um conjunto de ideias difundidas a fim de forjar uma realidade, fazendo com que ela, à primeira vista, oculte ou distorça o real, acarretando o domínio de classes.



Ideologia: a manipulação de um grupo por outro a fim de manter a sua condição de superioridade.




> O papel da ideologia seria, então, perpetuar de uma forma aparentemente pacífica a condição de dominador e dominado. Assim, as diferenças sociais estariam justificadas, explicadas como um fenômeno natural da sociedade, sem geração de nenhum conflito.


O questionamento da natureza das desigualdades sociais, da sua origem a partir dos atos dos homens, da pobreza como criação social seriam substituídos pela doutrina da ideologia burguesa. Em se tratando de ideologia, inevitavelmente chegamos à discussão sobre senso comum.


Senso comum: o que é


Algumas nuances de determinadas ideologias são permeadas de ideias oriundas do senso comum.


& O senso comum vem a ser a aceitação de um conhe-cimento, em geral por meio, da tradição, sem nenhum questionamento acerca de sua validade. Quando um sujeito aceita uma ideia ou conceito como verdadeiro, simplesmente porque acredita em quem o transmite ou porque um grupo com o qual se identifica também nele crê, torna-se mais um a participar da engrenagem do senso comum.


O senso comum está diretamente ligado à predominância da crença em detrimento da crítica, caracterizando-se como o conhecimento adquirido por tradição, passado de geração em geração sem ser submetido ao senso crítico. Por isso mesmo, de uma forma geral, ele vem permeado de ideias preconceituosas relativas ao seu caráter conservador.




Senso comum: a ausência de postura crítica



Se uma ideia é transmitida ao longo dos anos tendo a sua essência preservada, não há como esperar que ela não venha carregada de preconceitos. A sociedade muda com o passar do tempo, assim como a maneira de interação dos indivíduos com os fatos.


Ao contrário do que possa parecer, a ocorrência do senso comum não se restringe a grupos determinados por idade, classe social, credo ou instrução acadêmica. O senso comum se manifesta em qualquer grupo e época.


No entanto, a aceitação do senso comum não é, em sua totalidade, atitude negativa. O importante é que ela seja acompanhada do bom senso.


Exercícios


01- Em Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, lemos:


Ideologia S.f. 2. Filos. Conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores.


Com a teoria marxista o vocábulo ideologia ganhou uma conotação negativa. Você acha que há também essa vertente negativista na definição acima? Explique. 


02 - Quando a ideologia é utilizada como instrumento de dominação de um grupo sobre outro, quais são as estratégias possíveis para a libertação do grupo reprimido?



03 - "A palavra ideologia, contemporânea da Revolução Francesa, foi criada por Antoine Destutt de Tracy (1754- 1836), para designar uma disciplina filosófica que devia ser a base de todas as demais ciências." (ENCICLOPEDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: 1979. Vol 11, p. 5950.)


No entanto, o termo foi vulgarizado por Marx, com o seguinte sentido:


a) Um meio de resolução dos problemas práticos concernentes ao dia a dia;


b) Orientador na resolução de impasses, independentemente de manipulações histórico-sociais;


c) Conjunto de ideias difundidas a fim de demonstrar uma realidade, fazendo com que ela à primeira vista, oculte ou distorça o real, acarretando o domínio de classes;


d) Conjunto de ideias difundidas a fim de demonstrar uma realidade, fazendo com que ela à primeira vista, oculte ou distorça o real, acarretando a igualdade entra as classes;


e) Conjunto de ideias difundidas a fim de forjar uma realidade, fazendo com que ela à primeira vista, oculte ou distorça o real, acarretando o domínio de classes.



04 - "O bom senso é o núcleo sadio do senso comum." 


(GRAMSCI,

Antônio. Concepção dialética da história, p. 16).


Podemos considerar características do senso comum:


a) Manifesta-se de forma restrita em grupos de determinada classe social, está ligado à crença em detrimento à crítica e é adquirido através da tradição.


b) Não há grupos padrões em que se manifeste, está relacionado à crítica em detrimento à crença e é adquirido exclusivamente nos meios acadêmicos.


c) Não há grupos padrões em que se manifeste, está relacionado à crítica em detrimento à crença e é adquirido através da tradição.


d) Manifesta-se de forma restrita em grupos de determinada idade, está relacionado à crítica em detrimento à crença e é adquirido exclusivamente nos meios acadêmicos.



e) Não há grupos padrões em que se manifeste, está ligado à crença em detrimento à crítica e é adquirido através da tradição.


05 - Por possuir um caráter marcadamente conservador, o senso comum:


a) Mostra-se sempre receptivo a novas noções.


 b) Vem permeado de ideias preconceituosas.


c) Não aceita influências religiosas nas noções transmitidas.


d) Alia-se, invariavelmente à razão, no estabelecimento de suas noções.


e) Não pode, em tempo algum, se aliar ao bom senso.


06 - Podemos dizer que a aceitação do senso comum:


a) Tem sempre um caráter muito negativo, pois é guiada invariavelmente pela intuição em detrimento da razão.


b) Assume um caráter positivo e essencial à existência humana, pois se torna uma espécie de fuga necessária á uma vida harmoniosa.


c) Perde o caráter negativo quando vem acompanhado de senso crítico e bom senso.


d)

Perde o caráter negativo quando vem acompanhado de intuição e crença em detrimento da crítica.


e)

Assume um caráter negativo quando acompanhada da crítica em detrimento da razão.



07 - Leia atentamente a citação abaixo:


"Nada é mais perigoso do que uma ideia quando se tem apenas uma"


(Émile-Auguste Chartier)


Teça um comentário sobre a citação, associando-a às ideias que você desenvolveu sobre ideologia.



terça-feira, 30 de janeiro de 2024

14 - Filosofia, fé e razão

 Aula 14 - Filosofia, fé e razão.


O problema fé x razão não é novo. Já no século II, com a expansão do Cristianismo e a decadência do Império Romano, a Igreja Católica ganha espaço no intuito de unir o Cristianismo à Filosofia.


A pregação de são joão batista, de francesco ubertini bacchiacca ii museum of fine arts, Budapeste 


O objetivo que motivava tais esforços era converter os pagãos à verdade, assim como combater as heresias, através das respostas aos fortes ataques morais e teóricos sofridos.


As ideias trazidas pela filosofia católica mostram, como grande diferencial às ideias dos filósofos gregos, a explicação da existência do mal no mundo.


A Filosofia, aqui, seria um instrumento de comprovação, de característica essencialmente racional, das ideias difundidas pelo Cristianismo.


Mas razão e fé são compatíveis? Podemos chegar a um entendimento do que é razão para a Filosofia a partir do trecho abaixo:


"(...) Na cultura da chamada sociedade ocidental, a palavra, razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos que têm um sentido muito parecido em latim e em grego.


Logos vem do verbo legin, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratio vem do verbo reor, que quer dizer: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular.


Que fazemos quando medimos, juntamos, separamos, contamos, calculamos? Pensamos de modo ordenado. E de que meios usamos para essas ações? Usamos palavras (mesmo quando usamos números estamos usando palavras, sobretudo os gregos e romanos, que usavam letras para indicar números).


Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível. E, também, a confiança de que podemos ordenar e reorganizar as coisas porque são organizáveis, ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas, isto é, as próprias coisas são racionais.(..)"


Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. Editora Ática, São Paulo, 1995




Desenho de Leonardo da Vinci retrata a anatomia do crânio: a utilização da razão na busca pela compreensão da realidade



Assim sendo, a chamada Filosofia católica busca cumprir tal objetivo: organizar a realidade e compreendê-la através delas mesmas. Na verdade, não há nada de mal nisso!


No entanto, para que o ideário cristão fosse aceito, os padres o transformaram em verdades reveladas por Deus, pelo intermédio da Bíblia e dos santos.


Por sua origem divina, tais verdades seriam conhecidas como dogmas, totalmente à margem de qualquer tipo de questionamento ou desconfiança.


A partir desse momento, muito adversa à busca filosófica até então, surgem dois tipos de verdade: as verdades reveladas (divinas) e as verdades da razão (humana).


Assim, os temas da filosofia católica vão permear a possibilidade ou não de conciliação entre razão e fé.



Exercícios



01 - "Ter fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita."


(Santo Agostinho)


A citação de Santo Agostinho, grande filósofo da Filosofia cató-lica, possibilita em muito o entendimento da tentativa de aliança entre fé e Filosofia. Busque fazer essa relação através do que você estudou e da referida citação.


02 - A definição adequada, em termos filosóficos, para razão é:


a) Capacidade inerente a alguns poucos indivíduos, para isso treinados, para pensar e exprimir-se correta e claramente;


b) Capacidade intelectual para pensar e exprimir- se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível;


c) Comportamento aprendido socialmente que dá condição ao ser de organizar a realidade;


d) Capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como as compreende;


e) Capacidade intelectual para aprender e pensar.



03 - A grande questão é: razão e fé são compatíveis? Qual a sua opinião sobre o tema?


04 - "Pois é muito mais grave corromper a fé, da qual vem a vida da alma, que falsificar dinheiro, pelo qual a vida temporal é susten-tada. Logo, se falsificadores e outros malfeitores são imediata e justamente executados pelos príncipes temporais, com muito mais justiça podem ser hereges, assim que denunciados, não apenas excomungados mas também mortos."


(São Tomás de Aquino)


A partir de seus conhecimentos, adquiridos com o estudo deste módulo, interprete a fala de São Tomás de Aquino, fazendo uma substituição das imagens por ele utilizados por imagens de seu cotidiano.


Consciência: o eu, a pessoa, o cidadão e o sujeito.

 A consciência: o eu, a pessoa, o cidadão e o sujeito. A teoria do conhecimento no seu todo realiza-se como reflexão do entendimento e basei...